domingo, 7 de janeiro de 2018

Preferia pensar de modo diferente...

O Brasil está sim ficando chato. E por vezes, lamento, burro. Não se zangue, leitor, achando que me excluo do conteúdo deste Brasil.
Há um sentimentalismo patológico imperando no gosto médio que – veja o contrassenso – até me comove. Enquanto o Brasil real é estúpido, racista, conservador, intolerante, revela-se pelo jornalismo e ficção televisiva um oposto sentimentaloide: descrevem a intolerância para adorna-la com um final feliz, muitas vezes até incompreensível, como na última novela da Rede Globo de Glória Peres. Vou cita-la com um resumo para quem não a presenciou naquele dia a dia enfadonho de suas intrigas mixas: uma jovem linda, bem nascida, rica não se sentia menina. Evolui-se para a mudança de sexo, pelo que se narra, sem intervenções cirúrgicas que, confesso, desconheço a existência ou êxitos. Na mudança inversa sim, sabemos possível. E então o que escolhe para seu par a doce menina que se transforma num ser esquisito de barba fina? Seu ex-namorado, optando desta forma por uma relação heterossexual que não incluía uma atração física condizente. Não era para aquele recém-homem sentir-se atraído por mulheres? Não nos parece obvio que a orientação escolhida deveria ser regida por um impulso também sexual? E o que coube ao pobre personagem masculino então, foi aberração completa e ancorada numa narrativa (desculpem) inverossímil: da noite para o dia, para ter nos braços a antiga namorada, que se resignasse com o fato dela não ter mais seios e ainda exibir uma barbicha pra lá de feia, vestindo-se como homem, falando como homem e ainda se confessasse homem. E ele a abraça, a beija: É o amor verdadeiro, diz a autora escrevendo em tortas entrelinhas. Os dois vão viver o amor ideal, o encontro de almas e para o inferno aquela explosão de hormônios que regem as escolhas sexuais dos jovens, amplamente mostrada em cada episódio de cada folhetim que empregam atores, diretores, cinegrafistas e atraem patrocinadores. E temos o paradoxo que poderia elevar uma obra de arte, mas que aqui, é invencionice sem pé ou cabeça: uma jovem rejeita sal condição feminina e ao virar homem, mudar de nome, declarar-se homem, entrega a um homem que jamais cogitou amar outro homem.
Enquanto a teledramaturgia elege seus temas para reger a sociedade média – racismo é outro de seus temas favoritos e para sua doutrinação expele similares idiotices – o jornalismo trata de escolher para os cansados, exauridos brasileiros quem é que os deve governar.
Não, imprensa não deve ser neutra, imparcial: mas é preciso clareza e honestidade intelectual como um intransponível paradigma.  Não cabe aqui um libreto oficial das boas normas do bom jornalismo.  Mas, temos assistido algo pior que o fake News que pode ser combatido frontalmente diante do rigor do fato:  uma imprensa livre – e assim deve ser e será – que omite informações, informa erradamente os episódio e os interpreta conforme a conveniência do editor ou, pior ainda, do veículo que para existir simplesmente pressupõe severidade rigorosa na apuração de fatos e consequências. Vou apelar à precisão machadiana e apelar para a covardia do exemplo: Observe uma diferença fundamental entre duas manchetes das retrospectivas de 2017:
- Temer escapa de duas denúncias de crime de lavagem de dinheiro e corrupção passiva
- Congresso rejeita denúncia contra presidente Temer
Não pretendo opinar sobre as manchetes, afinal, a conclusão é quase obvia do encaminhamento editorial e isso está posto, claro. O problema é que no bojo da notícia não há explicação sobre a denúncia que enfim é o principal fato da manchete e que, convenhamos, o jornalismo não explicou, não esmiuçou, apenas arranhou a extensa superfície condição que lhe dava certo aspecto de severidade crítica. Exceção a colunistas famosos que se posicionaram e também alguns editoriais, a população se posicionou sem estar segura se houve fraude na denúncia ou não. Quem buscou aprofundar-se no tema, com certeza, está convencido de diversos pontos do episódio central da política em 2017. Mas àqueles que confiaram na informação superficial dos maiores veículos de comunicação do país, seguramente, estão equivocados. Foi ao equívoco que esta imprensa conduziu seus ouvintes, leitores, telespectadores. Os colunistas podem errar, podem dispor suas ideias, mas devem ser inequívocos quanto às suas posições. Ai discordamos, concordamos, detestamos, adoramos. Mas quando, no momento seguinte, o jornalismo vem com aquela isenção inventada tentando nos fazer ignorar os objetivos traçados nitidamente por seus veículos de comunicação, ai constrangem as mentes medianamente informadas e lúcidas.

E a isso que me refiro quando digo que estamos sentimentalistas, passionais e chatos. Temos aberturas de telejornais com vinhetas geniais, trilhas sonoras eletrizantes e figurinos e jornalistas impecáveis. Temos favelas bonitinhas, com casinhas arrumadinhas e para dar clareza à pobreza dão toques bregas desenvolvendo uma estética kitsch à base de um proselitismo estético. Ah, que num barraco daqueles até eu moraria. Naquele beco limpinho também. Estendo minha preguiça sem alegria para este discurso igualitário que cria a falsa aparência de que somos tão cordiais – confundindo a tese de Sérgio Buarque de Hollanda -  bonzinhos e claro, bonitinhos. Mas no fundo estamos apenas ficando sentimentalistas, passionais, chatos e, desculpem generalização, burros. Deve ser por isso também que as pesquisas de opiniões (feitas há décadas com as mesmas formulações de perguntas) estão levando ao segundo turno das próximas eleições presidenciais Lula X Bolsonaro. Burrice é pouco.

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