domingo, 18 de outubro de 2015

Déjà Vu

Convivíamos com um contínuo mal estar que evoluía para intensa angústia, diuturnamente. Quando tudo parecia bem – por que nada estava, meramente parecia estar – bastava uma pequena lembrança, um átimo de tempo e éramos soterrados naquele estado mental de indignação e revolta. Doloroso estado de revolta. Insuportável e inescapável indignação.
E vieram os mais brandos que os terríveis anos de chumbo: Araguaia caída, mas agora não era mais necessário esperar por sua capitulação. Wladimir Herzog, capaz de perturbar o sono do mais alienado direitista, era fato consumado. E uma mulher que chorava como dobravam os sinos era sonora e bela melodia e jamais ouviríamos a cantilena melancólica de Chico Buarque sem chorar.
Em segredo, outras tantas dores, mortes silenciosas, expectativa de milagres e esperança de liberdade. Meus anos de juventude foram assim.
E demorei para perceber, malgrado presidentes intragáveis, que vivíamos numa democracia. Meus filhos eram crianças, ficaram jovens, por fim adultos e mesmo com o atraso ordinário desse gigante que não desperta, havia a fé inabalável em dias melhores. Bem, que dias melhores se insinuaram em liberdade, com eleições regulares e decepções de praxe, era assim. Mas, à sombra da falta eficiência, da falta de agilidade, de retrocessos gerenciais que, contudo não destruíam de todo o sonho, ainda sobrevinha a ideia de que, calma estamos chegando.
Nunca mais a menosvalia dos desmandos, das falas hipócritas de generais alinhados aos seus próprios interesses; nunca mais a angústia dos olhares perplexos, na rua, na praça, na padaria, quando notícias falsas estalavam em nossos tímpanos sem que pudéssemos sequer contestar ou quando manchetes estampadas desafiavam nossos olhares desconfiados: chega, acabou! Agora teremos liberdade, democracia.
De repente, em meio ao caos, viramos fiscal do governo, esperança, saímos às ruas de cara pintadas, esperança, convivemos com 5000% de inflação, mas sobrevivia a esperança. Tantos dígitos, mãe? Sim! Zeros foram cortados apenas para que calculadoras de mão dessem conta das contas.  A residente e resistente esperança seguia alicerçada na confiança de nosso futuro sem a tutela do Estado opressor, tutor, censor e – por que não dizer? – criminoso.
Expressões como “farinha do mesmo saco”, “todos comem no mesmo cocho”, “político é tudo igual e nenhum presta”, na era da liberdade de imprensa recém-restaurada, foram até mesmo se espaçando. Houve um quê de República em nossa sociedade libertada, acrescida da derrota da inflação. Coroando o êxito no caminho da democracia, do liberalismo, o Brasil elege um ex-operário para Presidente. Convenhamos, guinado, um pouco, a uma, aparentemente, esquálida esquerda, mas fora esta que nos abastecera por anos, ainda que vagamente, da ideia de um país com bem estar social, que deveria ser erigido sobre nossos traumas e que nos envolvia na esperança acalentada, desde os anos de chumbo: após os acertos estruturais, enfim, buscar justiça social.
Hoje não é constrangedor confessar: jamais votei em Lula, mas preciso reconhecer: acreditei nele. Vou dar um salto, que afinal não há brasileiro que ignore o que, enfim, foi e está sendo o reinado petista: ampla escória, com seus vassalos acastelados e calados pelo famoso vil metal. Status estabelecidos,  feudo posto, sobrou para nós, chusma exausta, sermos os servos de imensa e inútil casta e entregarmos a ela 40% de nossa produção para que possa, agir com a extraordinária prodigalidade. O Estado ainda não mostrou ser assassino, mas é criminoso e voraz vampiro do sangue de uma nação. E nada de contrapartida. Menos ainda justiça social. Somente a cotidiana recepção dos mais escabrosos, escandalosos, sujos e espúrios escândalos que parecem não ter fim, nos expondo a nova ditadura:  A ditadura do conchavo.

O Estado brasileiro mostra que sobrevivemos acéfalos, que não há um só membro imprescindível neste detestável e incompetente partido, não há um só membro confiável neste farfalhar de discursos falsos, lidos com eloquência ensaiada e vazia. 

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