Convivíamos com um contínuo mal estar que
evoluía para intensa angústia, diuturnamente. Quando tudo parecia bem – por que
nada estava, meramente parecia estar – bastava uma pequena lembrança, um átimo
de tempo e éramos soterrados naquele estado mental de indignação e revolta.
Doloroso estado de revolta. Insuportável e inescapável indignação.
E vieram os mais brandos que os terríveis anos
de chumbo: Araguaia caída, mas agora não era mais necessário esperar por sua
capitulação. Wladimir Herzog, capaz de perturbar o sono do mais alienado
direitista, era fato consumado. E uma mulher que chorava como dobravam os sinos
era sonora e bela melodia e jamais ouviríamos a cantilena melancólica de Chico
Buarque sem chorar.
Em segredo, outras tantas dores, mortes
silenciosas, expectativa de milagres e esperança de liberdade. Meus anos de
juventude foram assim.
E demorei para perceber, malgrado
presidentes intragáveis, que vivíamos numa democracia. Meus filhos eram
crianças, ficaram jovens, por fim adultos e mesmo com o atraso ordinário desse
gigante que não desperta, havia a fé inabalável em dias melhores. Bem, que dias
melhores se insinuaram em liberdade, com eleições regulares e decepções de
praxe, era assim. Mas, à sombra da falta eficiência, da falta de agilidade, de
retrocessos gerenciais que, contudo não destruíam de todo o sonho, ainda
sobrevinha a ideia de que, calma estamos chegando.
Nunca mais a menosvalia dos desmandos, das
falas hipócritas de generais alinhados aos seus próprios interesses; nunca mais
a angústia dos olhares perplexos, na rua, na praça, na padaria, quando notícias
falsas estalavam em nossos tímpanos sem que pudéssemos sequer contestar ou
quando manchetes estampadas desafiavam nossos olhares desconfiados: chega,
acabou! Agora teremos liberdade, democracia.
De repente, em meio ao caos, viramos
fiscal do governo, esperança, saímos às ruas de cara pintadas, esperança,
convivemos com 5000% de inflação, mas sobrevivia a esperança. Tantos dígitos,
mãe? Sim! Zeros foram cortados apenas para que calculadoras de mão dessem conta
das contas. A residente e resistente esperança seguia alicerçada na
confiança de nosso futuro sem a tutela do Estado opressor, tutor, censor e –
por que não dizer? – criminoso.
Hoje não é constrangedor confessar: jamais
votei em Lula, mas preciso reconhecer: acreditei nele. Vou dar um salto, que
afinal não há brasileiro que ignore o que, enfim, foi e está sendo o reinado
petista: ampla escória, com seus vassalos acastelados e calados pelo famoso vil
metal. Status estabelecidos, feudo
posto, sobrou para nós, chusma exausta, sermos os servos de imensa e inútil
casta e entregarmos a ela 40% de nossa produção para que possa, agir com a extraordinária
prodigalidade. O Estado ainda não mostrou ser assassino, mas é criminoso e
voraz vampiro do sangue de uma nação. E nada de contrapartida. Menos ainda
justiça social. Somente a cotidiana recepção dos mais escabrosos, escandalosos,
sujos e espúrios escândalos que parecem não ter fim, nos expondo a nova
ditadura: A ditadura do conchavo.
O Estado brasileiro mostra que sobrevivemos
acéfalos, que não há um só membro imprescindível neste detestável e
incompetente partido, não há um só membro confiável neste farfalhar de
discursos falsos, lidos com eloquência ensaiada e vazia.
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