Uma jornalista –
segundo li da Globo – escreveu um texto dito ponderado sobre o tema. Não
consegui achar seu nome que esqueci, no dia seguinte que li seu texto, que ficou ali, implorando umas respostas. Terei de cita-la fora do contexto e sem citar seu nome. Mas não serei deselegante, podem acreditar. Desculpem minha falha... Se podem desculpar o JN,
por que não eu que terei poucos leitores?
Antes, pulemos a conversa sobre aqueles que pensam que, quem se
colocou contra os blacks e os mascarados são os que ENDOSSAM a violência policial, estão CONTRA
os professores ou, não podia faltar esta, são tucanos defendendo o governador
do estado do Paraná. Nada disso. A violência foi deplorável. Houve excessos,
feridos, sangues. E eu não precisaria dizer que sou contra a violência.
E vamos ao que interessa: é preciso observar que este movimento
não é exatamente o primor de respeito à lei e aos princípios democráticos – que
possibilitam, inclusive, que se possa fazer a greve, manifestar-se. E menos
ainda que estivessem presentes “alguns infiltrados”, “alguns provocadores”,
como escreveu a jornalista – cujo nome não me recordo, repito - em seu introito.
Mentira: estava coalhado de provocadores, aliás, vamos deixar claro
também que não eram meros provocadores, menos ainda “infiltrados”. Nenhum
desses termos reflete a realidade, são eufemismos para aqueles que ali estavam
– muitos deles mascarados – previamente admitidos para o confronto. E este, de
fato, é um dos pontos cruciais desse debate que não cessa: Não é aceitável que
um movimento DE PROFESSORES permita em suas fileiras mascarados, provocadores
trazendo estilingues, pedras e paus. Era necessária a clara premissa que todo o
processo seria pacífico. Qual é o propósito de ir a uma manifestação com paus e
pedras nos bolsos? Dialogar? Além disso, havia barracas fabricando coquetéis
molotov, ali, na hora, e entregues como se fosse pão quente.
Admitir a fabriqueta comandada por pessoas que incitavam a outras
a pegarem os recém-fabricados coquetéis molotov para atirar contra a polícia é
atitude de professor? Se isso não é um confronto, é o quê? Um convite ao
diálogo?
Vão dizer: ah, mas isso só seria usado caso a Polícia os
confrontasse. Coquetéis Molotov preventivos? Falácia facilmente determinada,
afinal, a polícia estava ali exatamente por reconhecer o risco eminente do
confronto. Confronto violento, assinado pelos coquetéis molotov, faça-me o
favor! Deveriam, isso sim exibir suas canetas, quem sabe bandeiras verdes,
amarelas, brancas. Falta o que aos professores? Inteligência? Argumentos?
Criatividade?
À jornalista que pondera de modo mais moderado que o usual sobre
todos os episódios, gostaria de expor mais algumas considerações.
A primeira, sobre o fato da Assembleia – sem acento – ter sido fechada:
Sim, diz em seu texto, esta é a casa do povo e não o castelo das autoridades. O
estilo neste caso não serve ao real. A Assembleia foi fechada preventivamente,
vetada sim, a entrada dos professores, por ordem da mesma justiça que
determinou a ilegalidade da greve.
E por quê? Para quem não sabe por que em fevereiro este mesmo
grupo e este mesmo sindicato invadiram e depredaram a Assembleia, ameaçaram
parlamentares e, agravante, o Sindicato (APP) já expressava a pretensão de um
novo cerco e nova invasão. E quem é que não viu os diversos vídeos mostrando
“professores” tentando quebrar as grades da Assembleia? Para quem não viu segue
ao final do texto, os links de alguns vídeos bem eloquentes em relação ao
comportamento dos grevistas.
Mais fatos, para entendermos o que houve:
Sucessivas negociações acerca das alterações no Sistema de
Previdência do Estado foram feitas sem alcançar os resultados esperados pelo
sindicato que representa os professores. E entramos no primeiro túnel: este
Sindicato é um braço do PT, ligado à CUT – nem precisamos combinar que fica
fácil concluir que o componente político da greve está claramente posto. Não há
causa trabalhista para a greve (os salários do Paraná estão entre os mais altos
do país), nem qualquer outra razão - a questão das aposentadorias, resume-se ao
maior impasse de todo sistema previdenciário: ou se faz uma reforma ou todo o
sistema vai quebrar. Em 15 anos estará sem recursos para pagar apenas os
beneficiários dos próximos 5 anos, que dirá de todos. Aliás: a Cut e o PT
deviam fazer igual reclamação em relação ao prejuízo causado por má gestão aos
fundos de pensão dos Correios que estão, inclusive desejosos de transferir para
TODO nós, pagadores de impostos, a conta.
Mas não pretendo discutir as medidas, as mudanças, deixemos este
embate para os políticos e economistas. Mas, é bom lembrar que elegemos os
políticos com a prerrogativa de agir em nosso nome, também nesses casos e numa
democracia devemos apenas e tão somente nos submeter a tais decisões, a menos
que firam a lei.
Mas, sem acordo entre governo e sindicato, foi convocada
novamente a greve. E esta foi declarada ilegal pela justiça – é, numa
democracia a justiça tem este poder. A lei de Greve foi votada também por
nossos representantes, no entanto os professores e seu Sindicato ignoraram a
decretação da ilegalidade da greve.
E isso é aceitável? Então é assim? A justiça julga ilegal uma
greve e sou impedido de fazer greve? Bem, devo advertir a quem ignora o fato
que sim, a justiça pode julgar ilegal uma greve e ela não poderá continuar e,
em se continuando, pagará o Sindicato, multa estabelecida na mesma sentença.
E o que temos, afinal? Um grupo que descumpre uma decisão da
justiça, prejudicando inclusive crianças e jovens, já que a greve pune
exatamente estes, num país onde a educação está à beira do colapso. E pode? E
quando forem os médicos? Pode também? E se forem os metroviários? Pode? Se
forem lixeiros? Pode? É preciso ser ingênuo para defender essa possibilidade. E
já estamos falando aqui de transgressão.
Bem, e quanto aos cães? Há muita indignação e posições contrárias
ao uso de cães pela polícia. Eu indago: E pode a polícia soltar os cachorros
sobre pacíficos grevistas?
É, não pode. Menos ainda defenderei aqui o policial que falhou
em segurar devidamente o BitBul que atacou o cinegrafista. Mas, quem viu o
vídeo viu também que não foi deliberado, e sim um acidente. A jornalista
afirmou que os policiais soltaram os pitbulls sobre as pessoas. Não vi isso em
nenhum vídeo e evidentemente este seria um excesso a ser punido com rigor. Mas
os cães, que se sabe, são usados para que as pessoas não se aproximem dos
policiais e não para ataca-las.
Mas dai a afirmar que um policial com pitbul não pode estar bem
intencionado configura inferência ou mera digressão. Nada a dizer.
Também é preciso reiterar que a Polícia tem como função precípua
a manutenção da ordem e detém também, pela lei, o monopólio do uso da força.
Virou reacionária, Roxana, defendendo a polícia agressiva,
violenta, corrupta? Claro que não. Mas defendo sim, suas funções precípuas. E
sou tão reacionária quanto Voltaire: “Para que um governo não tenha o direito
de punir erros dos homens é necessário que esses erros não sejam crimes. Os
erros somente são crimes quando perturbam a sociedade. Eles perturbam a sociedade
desde que inspirem fanatismos: é preciso, portanto, que os homens comecem por
deixar de ser fanáticos a fim de merecer a tolerância.” (Tratado sobre a
Tolerância). Li hoje, por coincidência. Capítulo XVIII pg 96, edição de Bolso
L&PM.
Perturbação da ordem é a mínima pretensão de um movimento que
leva pessoas com paus e pedras – não podem levar armas de fogo que ai é cana
certa – e estabelece uma fabriqueta de coquetel molotov no local. A menos que
assassinemos a lógica, não podemos chamar esse movimento de pacífico.
Reacionária, positivista, ideóloga do progresso, etc, até de
nazista já me chamaram. Mas são as leviandades oriundas da falta de argumento.
A paz pública é bem de todos e para mantê-la a mesma sentença
determinou que a força policial se posicionasse em torno da Assembleia, com
seus cães, com seus frascos de pimenta e suas bombas de “efeito moral” (SIC) –
detesto este outro eufemismo. E polícia é posta nas ruas para dialogar? Não. A
etapa do diálogo estava superada. Houve diálogo, mas não houve resultado. Quem
são os culpados pela ausência de consenso? Francamente? Não sei. Posso intuir,
mas não sei.
Mas a força policial foi desproporcional, Roxana, você não viu? Bem,
não sei dizer qual a proporção de forças seja adequada a um grupo que porta
pequenas bombas caseiras.
Afirma ainda a jornalista que não se atacam manifestantes, ainda
por cima professores, com a ferocidade usada pela polícia do Paraná. Observemos
uma frase que expressa uma verdade e que precisa ser lida também em sua
sublinha: “ainda mais professores”. Por que faço este destaque? Por que
professores, presumivelmente, são pacíficos. Não saem quebrando e invadindo
prédios, não saem com paus e pedras em seus bolsos, menos ainda jogando
coquetéis molotov por ai. Mas, claro está e a polícia já sabia que não eram
professores, mas sim um grupo disposto a quebrar, jogar pedras, confrontar.
Confrontar a polícia em qualquer lugar do mundo dá exatamente o que se deu. A
Polícia vai agir para eliminar o problema, cumprindo ordens.
Gosto disso? Não gosto, mas não gosto mesmo. Mas são fatos que
jamais devem ser ignorados, menos ainda por professores, conhecedores desses
fenômenos. E acho que devem ser investigados e punidos toodos os excessos
praticados pelos dois lados do confronto.
E em mim ecoa certo horror admitir que sim, havia professores e
sim, estavam dispostos ao confronto. (Michaelis
sig – confrontar – vtd – pôr-se defronte reciprocamente).
Faltou ainda discutir uma tese inefável, na acepção não
relacionada ao divino do termo. Diz a jornalista que os professores e seus
sindicatos andam em má companhia (SIC) por que há
décadas a profissão vem sendo sistematicamente sucateada no Brasil – e diz
mais: se fosse professora também sairia quebrando tudo por ai. Não duvido, há
muita gente que reconhece legitimidade nesses atos.
Mas,
por partes. Em primeiro lugar há um erro antológico nesta afirmativa:
professores ganham mal desde os mais remotos tempos. Na Grécia Antiga sequer
recebiam por seu trabalho, por seus ensinamentos, considerado – e quantas vezes
já ouvimos isso? – um sacerdócio. No Brasil restou o ranço dos tempos de
Colônia, da sociedade agrária com a educação considerada desnecessária para
quem ia apenas plantar e colher, explorar minerais, etc. A educação era
praticamente um ornamento. Como essas fórmulas se reproduzem ou pior, mantem-se
no viés dos planos, dos processos, chegamos ao século XXI com os professores,
particularmente aqueles que escolhem o ensino público para lecionar, com sua
carreira reduzida a péssimas condições e salários bem abaixo do esperado. E
naturalmente saber isso não representa aceitar tal modelo. E é necessário
realmente haver contínua mobilização da classe para melhorias e deixo pra lá
este discurso que não ultrapassa o óbvio, do posto, do sabido.
No
entanto, o que mais chama minha atenção na questão do professor, especialmente
nesse confronto de Curitiba, que, ninguém parece compreender, é esta categoria,
que representa conhecimento, que deve representar a vanguarda dos processos e
das ações transformadoras, que está intimamente ligada à ética e licitude de
suas ações submeter-se a tutela de um sindicato que impõe força, premissas
falsas, motivações politicas em suas manifestações, denegrindo-as,
desqualificando-as. Os gregos conheciam a natureza das coisas e afirmavam algo
que o prof. Clóvis de Barros resume em divertidas falas: a borboleta
borboleteia, o vento venteia, o ar areia. E eu sou obrigada a pronunciar uma
novidade: a polícia policeia. Professores, devolvam aos seus movimentos
clareza, mãos limpas, braços abertos e não haverá polícia, não haverá cães, não
haverá spray de pimenta, não haverá coquetéis molotov, paus, pedras,
estilingues. Apenas o apoio de seus pares – que anda baixo – e poderiam
angariar mais, talvez até dos estudantes e seus pais. Ou, legado deste
movimento será, no mínimo, a controvérsia. Perderam os professores, a unânime
aprovação de seus atos e na sequência, o vigor de seus discursos.
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