domingo, 3 de maio de 2015

Ainda há o que dizer sobre o confronto do Paraná

Uma jornalista – segundo li da Globo – escreveu um texto dito ponderado sobre o tema. Não consegui achar seu nome que esqueci, no dia seguinte que li seu texto, que ficou ali, implorando umas respostas. Terei de cita-la fora do contexto e sem citar seu nome. Mas não serei deselegante, podem acreditar. Desculpem minha falha... Se podem desculpar o JN, por que não eu que terei poucos leitores?
Antes, pulemos a conversa sobre aqueles que pensam que, quem se colocou contra os blacks e os mascarados são os que  ENDOSSAM a violência policial, estão CONTRA os professores ou, não podia faltar esta, são tucanos defendendo o governador do estado do Paraná. Nada disso. A violência foi deplorável. Houve excessos, feridos, sangues. E eu não precisaria dizer que sou contra a violência.
E vamos ao que interessa: é preciso observar que este movimento não é exatamente o primor de respeito à lei e aos princípios democráticos – que possibilitam, inclusive, que se possa fazer a greve, manifestar-se. E menos ainda que estivessem presentes “alguns infiltrados”, “alguns provocadores”, como escreveu a jornalista – cujo nome não me recordo, repito - em seu introito.
Mentira: estava coalhado de provocadores, aliás, vamos deixar claro também que não eram meros provocadores, menos ainda “infiltrados”. Nenhum desses termos reflete a realidade, são eufemismos para aqueles que ali estavam – muitos deles mascarados – previamente admitidos para o confronto. E este, de fato, é um dos pontos cruciais desse debate que não cessa: Não é aceitável que um movimento DE PROFESSORES permita em suas fileiras mascarados, provocadores trazendo estilingues, pedras e paus. Era necessária a clara premissa que todo o processo seria pacífico. Qual é o propósito de ir a uma manifestação com paus e pedras nos bolsos? Dialogar? Além disso, havia barracas fabricando coquetéis molotov, ali, na hora, e entregues como se fosse pão quente. 
Admitir a fabriqueta comandada por pessoas que incitavam a outras a pegarem os recém-fabricados coquetéis molotov para atirar contra a polícia é atitude de professor? Se isso não é um confronto, é o quê? Um convite ao diálogo?
Vão dizer: ah, mas isso só seria usado caso a Polícia os confrontasse. Coquetéis Molotov preventivos? Falácia facilmente determinada, afinal, a polícia estava ali exatamente por reconhecer o risco eminente do confronto. Confronto violento, assinado pelos coquetéis molotov, faça-me o favor! Deveriam, isso sim exibir suas canetas, quem sabe bandeiras verdes, amarelas, brancas. Falta o que aos professores? Inteligência? Argumentos? Criatividade?
À jornalista que pondera de modo mais moderado que o usual sobre todos os episódios, gostaria de expor mais algumas considerações.
A primeira, sobre o fato da Assembleia – sem acento – ter sido fechada: Sim, diz em seu texto, esta é a casa do povo e não o castelo das autoridades. O estilo neste caso não serve ao real. A Assembleia foi fechada preventivamente, vetada sim, a entrada dos professores, por ordem da mesma justiça que determinou a ilegalidade da greve.
E por quê? Para quem não sabe por que em fevereiro este mesmo grupo e este mesmo sindicato invadiram e depredaram a Assembleia, ameaçaram parlamentares e, agravante, o Sindicato (APP) já expressava a pretensão de um novo cerco e nova invasão. E quem é que não viu os diversos vídeos mostrando “professores” tentando quebrar as grades da Assembleia? Para quem não viu segue ao final do texto, os links de alguns vídeos bem eloquentes em relação ao comportamento dos grevistas.
Mais fatos, para entendermos o que houve:
Sucessivas negociações acerca das alterações no Sistema de Previdência do Estado foram feitas sem alcançar os resultados esperados pelo sindicato que representa os professores. E entramos no primeiro túnel: este Sindicato é um braço do PT, ligado à CUT – nem precisamos combinar que fica fácil concluir que o componente político da greve está claramente posto. Não há causa trabalhista para a greve (os salários do Paraná estão entre os mais altos do país), nem qualquer outra razão - a questão das aposentadorias, resume-se ao maior impasse de todo sistema previdenciário: ou se faz uma reforma ou todo o sistema vai quebrar. Em 15 anos estará sem recursos para pagar apenas os beneficiários dos próximos 5 anos, que dirá de todos. Aliás: a Cut e o PT deviam fazer igual reclamação em relação ao prejuízo causado por má gestão aos fundos de pensão dos Correios que estão, inclusive desejosos de transferir para TODO nós, pagadores de impostos, a conta.
Mas não pretendo discutir as medidas, as mudanças, deixemos este embate para os políticos e economistas. Mas, é bom lembrar que elegemos os políticos com a prerrogativa de agir em nosso nome, também nesses casos e numa democracia devemos apenas e tão somente nos submeter a tais decisões, a menos que firam a lei.
Mas, sem acordo entre governo e sindicato, foi convocada novamente a greve. E esta foi declarada ilegal pela justiça – é, numa democracia a justiça tem este poder. A lei de Greve foi votada também por nossos representantes, no entanto os professores e seu Sindicato ignoraram a decretação da ilegalidade da greve.
E isso é aceitável? Então é assim? A justiça julga ilegal uma greve e sou impedido de fazer greve? Bem, devo advertir a quem ignora o fato que sim, a justiça pode julgar ilegal uma greve e ela não poderá continuar e, em se continuando, pagará o Sindicato, multa estabelecida na mesma sentença.
E o que temos, afinal? Um grupo que descumpre uma decisão da justiça, prejudicando inclusive crianças e jovens, já que a greve pune exatamente estes, num país onde a educação está à beira do colapso. E pode? E quando forem os médicos? Pode também? E se forem os metroviários? Pode? Se forem lixeiros? Pode? É preciso ser ingênuo para defender essa possibilidade. E já estamos falando aqui de transgressão.
Bem, e quanto aos cães? Há muita indignação e posições contrárias ao uso de cães pela polícia. Eu indago: E pode a polícia soltar os cachorros sobre pacíficos grevistas?
É, não pode. Menos ainda defenderei aqui o policial que falhou em segurar devidamente o BitBul que atacou o cinegrafista. Mas, quem viu o vídeo viu também que não foi deliberado, e sim um acidente. A jornalista afirmou que os policiais soltaram os pitbulls sobre as pessoas. Não vi isso em nenhum vídeo e evidentemente este seria um excesso a ser punido com rigor. Mas os cães, que se sabe, são usados para que as pessoas não se aproximem dos policiais e não para ataca-las.
Mas dai a afirmar que um policial com pitbul não pode estar bem intencionado configura inferência ou mera digressão. Nada a dizer.
Também é preciso reiterar que a Polícia tem como função precípua a manutenção da ordem e detém também, pela lei, o monopólio do uso da força.
Virou reacionária, Roxana, defendendo a polícia agressiva, violenta, corrupta? Claro que não. Mas defendo sim, suas funções precípuas. E sou tão reacionária quanto Voltaire: “Para que um governo não tenha o direito de punir erros dos homens é necessário que esses erros não sejam crimes. Os erros somente são crimes quando perturbam a sociedade. Eles perturbam a sociedade desde que inspirem fanatismos: é preciso, portanto, que os homens comecem por deixar de ser fanáticos a fim de merecer a tolerância.” (Tratado sobre a Tolerância). Li hoje, por coincidência. Capítulo XVIII pg 96, edição de Bolso L&PM.
Perturbação da ordem é a mínima pretensão de um movimento que leva pessoas com paus e pedras – não podem levar armas de fogo que ai é cana certa – e estabelece uma fabriqueta de coquetel molotov no local. A menos que assassinemos a lógica, não podemos chamar esse movimento de pacífico.
Reacionária, positivista, ideóloga do progresso, etc, até de nazista já me chamaram. Mas são as leviandades oriundas da falta de argumento.
A paz pública é bem de todos e para mantê-la a mesma sentença determinou que a força policial se posicionasse em torno da Assembleia, com seus cães, com seus frascos de pimenta e suas bombas de “efeito moral” (SIC) – detesto este outro eufemismo. E polícia é posta nas ruas para dialogar? Não. A etapa do diálogo estava superada. Houve diálogo, mas não houve resultado. Quem são os culpados pela ausência de consenso? Francamente? Não sei. Posso intuir, mas não sei.
Mas a força policial foi desproporcional, Roxana, você não viu? Bem, não sei dizer qual a proporção de forças seja adequada a um grupo que porta pequenas bombas caseiras.
Afirma ainda a jornalista que não se atacam manifestantes, ainda por cima professores, com a ferocidade usada pela polícia do Paraná. Observemos uma frase que expressa uma verdade e que precisa ser lida também em sua sublinha: “ainda mais professores”. Por que faço este destaque? Por que professores, presumivelmente, são pacíficos. Não saem quebrando e invadindo prédios, não saem com paus e pedras em seus bolsos, menos ainda jogando coquetéis molotov por ai. Mas, claro está e a polícia já sabia que não eram professores, mas sim um grupo disposto a quebrar, jogar pedras, confrontar. Confrontar a polícia em qualquer lugar do mundo dá exatamente o que se deu. A Polícia vai agir para eliminar o problema, cumprindo ordens.
Gosto disso? Não gosto, mas não gosto mesmo. Mas são fatos que jamais devem ser ignorados, menos ainda por professores, conhecedores desses fenômenos. E acho que devem ser investigados e punidos toodos os excessos praticados pelos dois lados do confronto.
E em mim ecoa certo horror admitir que sim, havia professores e sim, estavam dispostos ao confronto. (Michaelis sig – confrontar – vtd – pôr-se defronte reciprocamente).
Faltou ainda discutir uma tese inefável, na acepção não relacionada ao divino do termo. Diz a jornalista que os professores e seus sindicatos andam em má companhia (SIC) por que há décadas a profissão vem sendo sistematicamente sucateada no Brasil – e diz mais: se fosse professora também sairia quebrando tudo por ai. Não duvido, há muita gente que reconhece legitimidade nesses atos.
Mas, por partes. Em primeiro lugar há um erro antológico nesta afirmativa: professores ganham mal desde os mais remotos tempos. Na Grécia Antiga sequer recebiam por seu trabalho, por seus ensinamentos, considerado – e quantas vezes já ouvimos isso? – um sacerdócio. No Brasil restou o ranço dos tempos de Colônia, da sociedade agrária com a educação considerada desnecessária para quem ia apenas plantar e colher, explorar minerais, etc. A educação era praticamente um ornamento. Como essas fórmulas se reproduzem ou pior, mantem-se no viés dos planos, dos processos, chegamos ao século XXI com os professores, particularmente aqueles que escolhem o ensino público para lecionar, com sua carreira reduzida a péssimas condições e salários bem abaixo do esperado. E naturalmente saber isso não representa aceitar tal modelo. E é necessário realmente haver contínua mobilização da classe para melhorias e deixo pra lá este discurso que não ultrapassa o óbvio, do posto, do sabido.
No entanto, o que mais chama minha atenção na questão do professor, especialmente nesse confronto de Curitiba, que, ninguém parece compreender, é esta categoria, que representa conhecimento, que deve representar a vanguarda dos processos e das ações transformadoras, que está intimamente ligada à ética e licitude de suas ações submeter-se a tutela de um sindicato que impõe força, premissas falsas, motivações politicas em suas manifestações, denegrindo-as, desqualificando-as. Os gregos conheciam a natureza das coisas e afirmavam algo que o prof. Clóvis de Barros resume em divertidas falas: a borboleta borboleteia, o vento venteia, o ar areia. E eu sou obrigada a pronunciar uma novidade: a polícia policeia. Professores, devolvam aos seus movimentos clareza, mãos limpas, braços abertos e não haverá polícia, não haverá cães, não haverá spray de pimenta, não haverá coquetéis molotov, paus, pedras, estilingues. Apenas o apoio de seus pares – que anda baixo – e poderiam angariar mais, talvez até dos estudantes e seus pais. Ou, legado deste movimento será, no mínimo, a controvérsia. Perderam os professores, a unânime aprovação de seus atos e na sequência, o vigor de seus discursos.




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