sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Discordar é...

O Facebook tem sido um exercício diário de paciência para vencer meu ímpeto permanente de discordar.
Em primeiro lugar devo este ímpeto (e, no âmbito doméstico, hábito), aos meus maravilhosos ancestrais, alguns amigos de ontem e ninguém pode me culpar por isso. Discordo, sempre e tanto, que mesmo em face de um detalhe, atuo sem constrangimento. Veio daí uma frase célebre de meu marido que me disse que meu nome poderia ser perfeitamente Discordo, ou, quem sabe, Do Contra. Ressalvas ao pejorativo, sou do contra e discordo por motivos muito mais nobres.
Sou filha de professor de história, sobrinha de professora de história e filosofia, fui nora de professor de (no mínimo) nove disciplinas espinhosas, entre elas filosofia pura (adjetivar a filosofia ao contrário do que parece, serve para deixá-la ainda mais complexa), além de outras três irmãs professoras de português e história. Não bastasse tais recomendações, houve ainda em minha vida um tio, muito querido e especial, que denomino apenas filósofo e fez desse filosofar e pensar o melhor de suas inúmeras qualidades intelectuais e artísticas - já que também era um aplicado e sensível pianista. E cumpre dizer que não sou a única de ampla irmandade a agir exatamente deste modo.
Isto posto, volto ao discordar. As conversas de nossas salas de visitas sempre são acaloradas e desafiadoras. Em primeiro lugar, por que discordamos e o fazemos, sempre que podemos, como diria Lúcia minha sogra por gosto e pândega.
Mas, não discordo apenas por esses dois divertidos motivos. Assim não fosse, as conversas, invariavelmente, se resumiriam em concordâncias negligentes, pois ao discordar, estamos apenas exercendo a primeira função de boa parte de nossa estirpe de professores e pensadores: problematizar um assunto, para deste modo, fazer com que todos se debrucem sobre ele com mais atenção. Tive um amigo que sempre que a conversa amornava dizia: Bem, agora vamos para um assunto polêmico. E logo tratava de lançar temas bicudos, incômodos, controversos.
Mas hoje, discordar, aparentemente, virou ofensa! O pensamento diverso tem sido sempre encarado como desrespeito mas, ao contrário, não há maior exercício de respeito do que discordar. Respeitar a opinião do outro é pré requisito para discordar. Quem não aceita a discordância, a mim me parece, nada mais deseja que do que impor sua opinião. Ai, diria com tom de professor que me assola ocasionalmente, viveríamos a falência da liberdade de pensar, fundamento do amadurecimento do indivíduo e da sociedade.
Ao discordar, eu me coloco claramente disposta a que discordem também ou estaria exercendo um cabotinismo contrário ao livre pensar que este discordar preconiza.


3 comentários:

  1. Discordo!!!! kkkkkkkkkkkkkkk

    Adorei o texto!!! FICOU DEMAIS!!!
    E agora sim, vou levar como "pândega" suas discordâncias...ahahahaha.

    PS: três irmãs professoras...rs. Que mimo heim?
    ahahahahaha

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  2. discordo! Três irmãs professoras por pândega!

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  3. Adorei Rox! Parabéns!
    Como sempre, texto bem escrito e delicioso de se ler!
    Continue discordando, realmente, assim vc abre as polêmicas do nosso querido fórum!
    Aprendo muito com você!
    Beijos

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